Depoimento
A pergunta era de um jovem estudante de jornalismo que ao questionar dona Tereza, a julgou
em final de jornada.
Dona Tereza no entanto lhe disse:
- Meu jovem, estou completando mais um ano de vida, já somo 97, mas como podes perceber,
ainda não é meu fim.
Não sei o que vem pela frente, aprendi muito até aqui, ensinei um tanto igual, e essa é a
beleza da vida:
Dar e receber!
Aprender e ensinar!
Dormir e acordar!
Sentir fome e saciar...
É simples meu jovem!
Quando minha jornada começou eu nunca imaginei chegar aos 97, pensava que tudo acabaria
sempre no dia seguinte, ou na hora de dormir, quando o cansaço tomava conta, eu sempre
pensava:
- é hoje que morro !
Mas não...
Resistir foi minha estrada!
Aprendi a comer pouco, andar muito, dançar imaginando um baile.
Eu também quis ser bailarina, professora, me aconcheguei melhor com as panelas,
Ser merendeira na escola e matar a fome de centenas de crianças famintas foi meu ofício.
E até hoje lembro daqueles que entravam três vezes na fila, aqueles eram magrelos e de olhos
molhados, pediam mais com medo de um não.
Eu nunca disse não para aqueles olhos.
Em casa não haveriam de ter nem panelas.
Na minha não havia, nem havia escola, nem tão pouco a merendeira a me olhar com amor. Mas venci e servi com muito amor a todas as bocas que precisavam repetir três vezes para matar a fome monumental que cabia não sei como em suas magras barrigas.
Eu ainda faço a minha comida meu jovem !
E sempre que sento à mesa eu lembro das boquinhas que ajudei a saciar.
Ainda quero viver muito mais!
Sempre fui faminta...
E minha fome também não passa!
Quem sabe aos 100, não é!?!
Quem sabe aos 100!
"Histórias Quase Inventadas"
Autora: JANETE FLORES, 54 anos, natural de Porto Alegre, radicada em Pelotas desde a década de 90, com formação em Artes, habilitação em Música pela Ufpel, compositora, instrumentista, cantora, artista plástica e escritora. Membra associada ao GAMP.
Pelotas, novembro de 2020
Minha avó morreu com 102 anos, pensando exatamente nisso, na alimentação das pessoas. Fui visitá-la no hospital e ela me disse: "Não vai embora sem tomar café", no dia seguinte morreu, já sabia que iria morrer, estava cansada e o desgaste dos órgão vitais eram visíveis. Esta geração de mulheres que viveram para cuidar e alimentar seus filhos, colocava um amor neste ato de cozinhar, alimentar que hoje pouco se vê, este comportamento deixou de ser valorizado nas famílias, cada um em seu quarto comendo Ifood... Desculpa revelar esta particularidade...
A profissão de merendeira é naturalmente em grande maioria assumida por mulheres, e hoje tem suas normas com orientações e prevenções, importante conhecerem.
Acessem:
Boas práticas de fabricação e manipulação de alimentos nas escolas RS
Higienização do ambiente escolar
Manual da Merendeira de São Paulo
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