Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas,RS

  Depoimento - Dona Tereza, me diga ao fim o quê a senhora aprendeu? A pergunta era de um jovem estudante de jornalismo que ao questionar dona Tereza, a julgou em final de jornada. Dona Tereza no entanto lhe disse: - Meu jovem, estou completando mais um ano de vida, já somo 97, mas como podes perceber, ainda não é meu fim. Não sei o que vem pela frente, aprendi muito até aqui, ensinei um tanto igual, e essa é a beleza da vida: Dar e receber! Aprender e ensinar! Dormir e acordar! Sentir fome e saciar... É simples meu jovem! Quando minha jornada começou eu nunca imaginei chegar aos 97, pensava que tudo acabaria sempre no dia seguinte, ou na hora de dormir, quando o cansaço tomava conta, eu sempre pensava: - é hoje que morro ! Mas não... Resistir foi minha estrada! Aprendi a comer pouco, andar muito, dançar imaginando um baile. Eu também quis ser bailarina, professora, me aconcheguei melhor com as pan

  Verão! Todo santo dia a Deise acorda, arruma seu menino, se ajeita e vai para a praia. Abre logo cedo sua banca de cachorro-quente, sintoniza na rádio do samba e trabalha. Seu menino Tales lhe acompanha, e como tem muitos amigos, ele passa mais tempo na beira da praia sob os olhos das suas dindas e das ambulantes do balneário, do que na banca. Tales está com 8 anos, completou no último domingo . Teve bolo e o presente esperado, uma camisa do seu timão. A dinda Alicia também lhe deu um óculos de mergulho e uma tarrafa mirim, é que o menino faz gosto por pescaria e mergulho. Hora e outra ele gosta de acompanhar o movimento dos barcos chegando na praia trazendo o peixe. Ele já escolheu seu futuro, diz que vai ser pescador e vai botar comida na mesa e deixar sua mãe descansar. Deise tem orgulho do menino que tá crescendo cheio de sonhos. Foi-se o tempo em que Deise estava grávida, t

                              Estela Bom dia sol, hora de acordar e desbravar o mundo! Estela fazia isso todo dia, uma verdadeira festa nos dias de sol. Vivia na rua desde que fugiu dos ataques do marido da patroa. Cresceu na casa da dona Ana, patroa de sua mãe e dela também . Estela nasceu lá no porão, do pai nunca ninguém soube, mas a meia língua diziam que o pai era o Ernesto, homem amargo, violento e bagaceiro. O patrão! Estela foi crescendo ali, trabalhando parelho com a mãe. Isabel apanhava calada, nunca reclamou, as vezes chorava. Estela quase foi pelo mesmo caminho depois que Isabel se foi desse mundo. Estela ficou trabalhando na casa, fazia todo serviço e era cobiçada pelo Ernesto, de quem fugia sem medo de morrer. Um dia fugiu bem fugida! Foi parar em Porto Alegre, a capital! 20 anos, ninguém no mundo, e uma cidade grande... Estela catou a primeira lixeira e comeu pão. Na rodoviária bebeu água. Na volta

  Querido diário, meu coração anoiteceu nesse momento. Recebi a pouco a notícia pela boca da televisão, de que meu filho, ao ser confundido com um marginal, teria sido conduzido por seguranças do supermercado, e estes, teriam espancado o meu menino até a morte! Depois, os brancos ainda lhe olhavam morto e espantados não compreendiam como o negro Morrera, afinal, negro é forte, corre rápido, carrega saco de cimento na cabeça , mexe massa na obra, capina canteiro central das avenidas, põe asfalto nas ruas, agora esse aqui morre porque tomou meia dúzia de chutes na cabeça... Não pode ser, olha melhor, vê bem se esse negão não tá nos trolando?! Não tá! Tá morto a merda do negão! Pqp!!! O vídeo era prova... Na atualidade tudo é gravado... E o vídeo já estava rodando nos jornais na tv! Os brancos, num instante matam um negro suspeito de entrar num supermercado. O negro! A televisão! A mãe que esperava seu filho voltar com as compras

  Vaza! A porta da rua é a serventia da casa, se não tá gostando vaza! Essa era a frase preferida do Truco. Truco era casado com Dona Jandira, mulher muito caprichosa com a casa, com os filhos e com o marido. Já fazia uns 30 anos que o Truco dizia que tinha se amontoado com a Jandira. Desse atropelo nasceram os gêmeos e as três meninas. Cinco bocas pra alimentar. Truco auxiliar de obra, no final da tarde passava na zona e apostava o dinheiro ralo no jogo do truco, pife, dados, pôquer, e dava de beber às meninas da boca. Em casa a dona Jandira esperava, mas não esperava, pra alimentar as boquinhas dos inocentes, dona Jandira fazia faxina, eram umas cinco por semana. Deixava as crias com a avó e corria pra lida. Deixava tudo num brinco. Na volta passava na feira, garantia a bóia, e não esquecia as bananas. As crianças eram loucas por bananas. Um dia chamaram as crianças de macacos, rolaram no chão brigand

  Um dia nublado! O doutor me disse senta, eu sentei. Ele com o olhar baixo, fixado no exame, me disse que era grave, que eu teria que fazer uma cirurgia para a a retirada do tumor, e que teria que fazer quimioterapia, e que ele faria de tudo para aliviar esse processo. Saí de lá tonta, zonza... Andei na rua, tomei uma água mineral, depois passei pela sorveteria, entrei, pedi uma casquinha, e segui andando. Fui até a praça e sentei olhando os pombos. Pensei na vida, em como dar essa notícia ao meu marido, por certo ele se abalaria. Hoje sentada aqui na rua, no jardim do hospital, pegando sol ao lado de minha mãe, Lembrei daquele dia, quando tudo isso começou, o receio de contar e traumatizar os meus. Nelson me ouviu calado naquele dia, depois foi se afastando, até que não voltou. Foi bem no início, quando ele me visitava no hospital, depois não vinha, dava desculpa, até que não voltou. Minha mãe disse

  Lili Depois de ter vivido à míngua por anos a fio, finalmente descansou. Foi num sábado, pensou em tudo que havia passado, lembrou de todas as mazelas, e decidiu que já bastava. Nascida Arlindo, apanhava a cada movimento delicado, e a cada sova, mais amaciava seus gestos, e mais apanhava. Assim acontecia! Cansada de tudo e de tanto, no sábado pegou sua mochila com documentos e um par de havaianas, depois da sova de vassoura, saiu pela porta e ganhou o mundo, por certo nas ruas não apanharia tantas vezes por dia, não teria a cabeça raspada a força, nem teria que escrever Arlindo em todo o caderno. Lili, finalmente poderia respirar longe do Bispo, padrasto que ganhara ainda na infância, não sei como sobreviveu por tanto tempo nas mãos de um monstro que rezava enquanto lhe quebrava as costelas e o nariz. Desse passado, Lili levaria somente as cicatrizes e a certeza de que Arlindo já poderia descansar em paz, po

                                  Rotina Depois de criar sozinha seus filhos, ela ainda não consegue dormir como Dormia antes do primeiro filho nascer. Agora já adultos, quando demoram um pouco mais na rua Dorinha já se apega nos seus santos e reza até o último filho entrar pela porta. Todos os dias seus meninos, já bem crescidos, levantam cedo e vão trabalhar, estudar, namorar, defender a vida. Ela também desde o primeiro raio de dia, já tá desperta, coando café, se arrumando pra mais um dia de luta. Dorinha é merendeira numa escola do bairro, e nas horas vagas, depois do expediente, ela faz umas costuras, troca zíper, faz ajustes, faz remendo, e quando acaba as costuras Dorinha faz a janta, limpa sua casinha, é um barraco, mas Dorinha faz gosto de deixar bem ajeitado. O mais novo do seus filhos, o Teodoro, tá servindo. É ruim mas pelo menos ganha uns troco, ele deixa em casa o do gás, o res

                                  Resultado Hoje era o dia de buscar o exame. Demorou por causa do feriadão ... Pareceu uma eternidade. Agora tá aqui na minha mão, não quero esperar o dia da consulta, vou abrir logo! A consulta é daqui a três dias, não aguento esperar. Já faz 4 horas que li o laudo do exame... Tô sem chão! E vou ficar sem chão e sem tudo... HTLV-1 Doença sexualmente transmissível, Incurável... Que acarreta sintomas neurológicos podendo levar à cadeira de rodas! Como ele teve coragem??? Às vésperas das nossas Bodas de prata e ele me presenteia com uma doença dessas?!??!!!! Já faz 1 mês que estive no especialista! Agora o tratamento é apenas paliativo, e ele já foi embora sim, preferiu ir ao ficar me vendo definhar, ainda saiu dizendo que eu era culpada porque não queria ele nunca, ele não teve culpa, ele é homem, tinha que aliviar.

                                                                 Liberdade -Vem aqui, entra comigo, me ouve filho! Dalvinha tava preocupada com o seu filho que correu na sua frente pra entrar na loja de brinquedos. Ele queria logo escolher seu presente de aniversário. -Felipe vem aqui eu já disse, espera a mãe! Mas o Felipe estava eufórico e entrou numa aflição, e foi logo pondo sua mãozinha no Homem-Aranha e no Capitão America, seriam eles os seus novos companheiros de aventuras, mas a vendedora logo veio lhe repreender dizendo que saísse da loja. Enxotou ele, mas se deparou com sua mãe no meio do corredor. Dalvinha perguntou à vendedora qual era o problema, a vendedora meio sem graça disse assim: - Desculpa senhora, é que ele tava sozinho, achei que era menino de rua. Dalvinha pegou o seu filho pela mão e disse a ele que iriam na loja ao lado porque nessa loja não respeitavam pessoas negras

                               O fio da meada Leda sabia as palavras, Lia corridinho e comprido, Sabia juntar letra por letra, Formava as palavras, Lia o jornal, Contava as notícias, E ajudava o povo a saber contar dinheiro. Começou bem menina, juntando papel... Passou a juntar jornal, papelão revista, livro e até uma bíblia. Leda gostava de ler até o dicionário, falava que era importante aprender palavra nova, e era! Um dia chegaram uns engravatados no seu barraco, Queriam o terreno de Leda. Ela não aceitou de maneiras que os homens se inflamaram. Leda nem ligou, era dois tempos dizia a Leda: É Inflamar e desinflamar. Leda tinha freguesia certa, na leitura das cartas, Tinha a curiosidade de uma criança E a força de um marisco fechado . O que ninguém sabia era que os engravatados queriam Tirar todo povo dali. Eles chegavam com um papel e logo anunciavam o despejo, Mas o povo chama

                                Hora do almoço Hoje cozinhei milho, batatas, cenoura, e beterraba, e fiz uma salada verde para comer com arroz, e ovo cozido. Sentei para comer, e como não tenho costume não bebi nada. Só bebo a água depois de almoçar . Quando sentei para comer, eu liguei a televisão, Tava na hora do jornal, falaram dos gols da rodada, dos números da covid, do preço do dólar, quando de repente começaram uma notícia que me tiraria a fome. A notícia era interligada com outras, e juntas eram uma dor de dilacerar o coração. O fato é que o quê ocorreu foi tão surreal que a gente nem consegue mensurar. Tente imaginar a sua mãe , ou a sua filha, sendo estuprada por 12 homens no mesmo instante. Conseguiu visualizar? Imaginou? Asco é o que eu sinto quando tento pensar nisso, provavelmente porque meu sistema de defesa de sanidade me preserva de ter a visão. Mas a notícia não acabou nesse

                                                               Foi engano? Helena já havia marcado a consulta médica com a melhor especialista endocrinologista da cidade já fazia dois meses, é que pelo convênio demora muito, mas Helena preferiu esperar os dois meses, a pagar consulta particular que lhe custaria um salário mínimo, Helena achava isso demais apesar de ter um ótimo salário como professora da universidade, Helena era ativista e Travava uma grande luta pelos seus direitos. Ela não estava no SUS por quê? Segundo ela, o especialista do SUS havia se aposentado e estavam demorando com a chamada do novo concurso. Não daria pra esperar o SUS. E como pelo Convênio demora um pouco menos, Helena marcou. No dia agendado Helena se preparou com capricho, colocou aquele vestido preto com flores, brincos coloridos combinando com a estampa, sua melhor sandália e perfume, mas quando ela chegou no consultório a se

                              Fila de espera II Todo mês, no dia de buscar a medicação Na farmácia popular, é sempre assim, demora Tanto, mas tanto, que a gente acaba sendo obrigada A ouvir tudo que lá se conta, é que além de o lugar ser Pequeno, ninguém mais faz sigilo, de modo que, pra bem de se bem ouvir, o povo já acostumou a contar com a Voz bem colocada. Nunca esqueci daquelas mulheres, mãe, filha, e neta. As três sentaram assim: a jovem com a menina de uns 2 anos sentaram ao meu lado, A mais velha sentou-se na cadeira defronte. Estavam lá para buscar remédio para a pequenina, não se sabe porque. O fato é que naquele dia, elas já estavam na rua desde muito mais cedo, Elas haviam passado primeiro na delegacia para o B.O de violência sexual contra menor. A moça, mãe da bem pequena, havia sofrido um estupro na última madrugada, e antes que Alguém acuse a moça de estar na rua facilitando o ocorrido, eu já adian

                                                            Desconhecidencias Já pensou se todo homem que fosse embora, E nunca mais voltasse pra ver os seus filhos e filhas, Fosse condenado por aborto premeditado???!!! Se essa lei fosse inventada e sacramentada e se aos culpados Fosse atribuída uma pena, será que ainda assim as mulheres seriam vistas como criminosas, Ou sociedade pegaria mais leve com elas? É uma pergunta que sempre me faço, cada vez que fico sabendo Que alguma mulher violentada sexualmente ainda passou pela violência de ser Obrigada a carregar e a criar o filho do estupro. Em muitos locais desse Brasil Continental, muitas meninas passam a vida criando filhos e filhas de abusos que sofreram. Existem crianças que não se sabe se são filhas, irmãs, sobrinhas ou netas do seu estuprogenitor, em algumas situações, nem mesmo a menina mãe vítima sabe dizer. Em outras situações elas até sabem, mas engolem o parent

Recreio Todo dia era igual. Tocava o sinal do recreio e era aquela correria. A algazarra começava antes de saírem na porta. Acho que em toda escola deva ser assim! Pra uns o recreio serve para lanchar, outros preferem gritar, correr, urinar. Na verdade o tempo é pouco para tantas vontades. E com tantas coisas urgentes para serem feitas em tão pouco tempo, Quem vai entender um grupo de adolescentes que se junta pra fazer troça de um ser humano? Todo dia é sagrado, eles se encontram na porta de grade e se param a gritar para a senhora que vende pastel e suco. Eles gritam: traveco, veado, mulherzinha. Darci nunca responde, nem olha, continua vendendo seus pastéis e sucos. Ela aprendeu a se calar desde cedo, não vai ser agora aos 70 que vai dar resposta pra menino. Darci criou toda família com seus pastéis e sempre teve muita educação apesar de nunca ter estudado em nenhuma escola. Darci não ganha só

                                                               Que horas são? Cris esperou muito tempo pela chegada do seu filho, Foram nove meses de muita luta para conseguir montar o Seu quartinho, fazer seu enxoval, tem até sapatinhos. Cris, 30 anos, doméstica, fundamental incompleto e sonhadora. Diarista em várias casas, tem ela várias patroas, algumas fizeram doações de roupinhas que em outros tempos aqueceram os seus pequenos. Cris terá o seu filho “solo” , já que o pai do menino partiu antes do combinado, foi infarto. Hoje o dia chegou, e Cris não pode se conter de felicidade, finalmente terá nos braços o fruto do amor que lhe olha agora de outra dimensão. É difícil de acreditar que essa negra alta e forte esteja parecendo uma menininha inexperiente, afinal, esse é seu primeiro filho, o seu menino. Juntou a bolsa com todo cuidado, conferiu se não tava faltando nada, e foi com sua velha para o hos

                                                                       Betina Aquela cruza de homem com o capeta, que havia se passado por bom moço até o dia do casamento com Betina, não cansava de debochar da mulher. Todo mês, nos últimos 5 anos, ele berrava: Mulher seca! Nunca vai me dar um filho homem! Só se prestou pra parir uma menina... Nenhum homem merece ter primeiro uma filha! As vezes ele gritava no portão: Robertina mulher seca por dentro e gorda por fora! Quem vai querer?! Onde que essa peste se meteu? Na rua todo mundo já conhecia as machezas do Antônio... Naquele dia,Betina tinha ido até a casa de Anastácia buscar farinha que a Zefa mandou por ela. Tonhão tava irritado com a menina que tinha acordado e não parava de chorar. Tonhão se botou a gritar, mas Betina não escutou porque a Anastácia tava chorosa porque seu menino tinha caído no presídio. Tonhão não qu

ANOITECEU! Naquele domingo ele tava irritado com a derrota do time, mal eu falava e ele logo respondia com gritos. Resolvi ficar quieta pra não dar argumento. Ele ficou furioso porque me mandou buscar uma pinga mas tinha acabado. Disse que eu era uma inútil desgraçada e chutou minha cadeira, eu tava sentada. Eu assustei com a reação dele e levantei e fui saindo dali, ele não gostou e gritou de novo. Eu fiquei quieta, ele pegou a faca eu comecei a chorar, ele tapou minha boca eu lutei pra gritar socorro, imaginando que alguém iria ouvir e me socorrer, eu lutei até conseguir, mas como em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, ele me meteu a faca. Rasgou meu bucho me disse que não ia aguentar duas chorona em casa, me furou uma dúzia de vezes, rasgou bem o bucho e a menina que eu esperava. Ele foi jogar com os amigos e eu fiquei sem socorro. Elvira chegou no portão e viu muito sangue, chamou a polícia qu

Chica Resolve Chica foi à feira. O feirante lhe desejou bom dia dona Chica. Dona Chica muito educada lhe respondeu sorridente. Juca já pensou besteira, e olha que o dia mal começava, Juca não tinha jeito, colono grosso não era dado a rodeios. Chica pediu cebola, temperinho verde, uma rúcula, tomate, e uns trocados de batata. Juca logo percebeu que a feira da semana tava magra, resolveu lhe dar um repolho de brinde, e fazer uma promoção na couve verde, Chica deu jeito de aceitar o repolho e de levar a couve no fiado. Na saída Juca lhe ofereceu uma pizza no Rodízio do Betão! Chica queria dizer não, mas já conseguia sentir o gosto bom do bacon, da calabresa, do camarão, acabou que disse sim. Juca ficou vermelho, bem coisa de alemão quando se inflama. De noite foram os dois pra o Rodízio do Betão, comeram até ficarem sem ar. E como ficou tarde Juca logo ofereceu carona pra Chica no seu caminhão de feira. Chica aceitou sem mais intenção. Já o Juca, n

Fila de Espera I Enquanto tô aqui esperando por atendimento, t em muitos olhares colados em mim, é normal sabe. Sempre que alguém chega numa delegacia todo mundo olha, ainda mais hoje que é sábado e que a delegacia da mulher tá fechada, é que a delegacia da mulher só funciona de segunda à sexta, é por isso que hoje eu tô aqui nessa delegacia comum, a outra só funciona no máximo até sexta-feira, e até às 17:30. Não sei quem inventou que tinha que ser assim, o fato é que tudo começa depois que anoitece, até as cinco e meia da tarde todo homem é santo. Ou quase todos! Tô aqui esperando pra registrar a agressão. Todo mundo já viu o olho roxo, a boca suja de sangue, a saia rasgada, mas ainda não chegou a minha vez de ser atendida.  Tô aguardando! Tô com medo que ele entre aqui e termine o serviço antes de chegar a minha vez. Hoje ele tá muito sem paciência, chegou perguntando por comida, tava no fogo sabe, ele gritou que tava demorando, que eu era