Estela



                              Estela

Bom dia sol, hora de acordar e desbravar o mundo!
Estela fazia isso todo dia, uma verdadeira festa nos dias de sol.
Vivia na rua desde que fugiu dos ataques do marido da patroa.
Cresceu na casa da dona Ana, patroa de sua mãe e dela também .
Estela nasceu lá no porão, do pai nunca ninguém soube, mas a meia língua diziam que o pai era o Ernesto, homem amargo, violento e bagaceiro. O patrão!
Estela foi crescendo ali, trabalhando parelho com a mãe. Isabel apanhava calada, nunca reclamou, as vezes chorava.
Estela quase foi pelo mesmo caminho depois que Isabel se foi desse mundo.
Estela ficou trabalhando na casa, fazia todo serviço e era cobiçada pelo Ernesto, de quem fugia sem medo de morrer.
Um dia fugiu bem fugida!
Foi parar em Porto Alegre, a capital!
20 anos, ninguém no mundo, e uma cidade grande...
Estela catou a primeira lixeira e comeu pão.
Na rodoviária bebeu água.
Na volta do Gasômetro juntou garrafa pet, aprendeu a vender.
Achou onde dormir.
Aprendeu tudo que sabe na rua!
Um dia ela ainda quer aprender a ler, já sabe contar dinheiro.
Sempre que vende as garrafas, ela conta.
Bom dia sol!
Bom dia.
Hora de trabalhar!!!
Hora de ser a Estela que eu sonhava, livre na cidade,
Cheia de sonhos, de fome e de vontade, mas sem um Ernesto pra me meter a mão como meteu com minha mãe!
Bom dia papelão!
Bom dia plástico!
Bom dia Gasômetro!
Estela está acordando mais um dia para limpar a cidade grande!

Bom dia rodoviária! Bom dia encruzilhadas! Bom dia catadoras!


"Histórias Quase Inventadas" 

Autora: JANETE FLORES, 54 anos, natural de Porto Alegre, radicada em Pelotas desde a década de 90, com formação em Artes, habilitação em Música pela Ufpel, compositora, instrumentista, cantora, artista plástica e escritora. Membra associada ao GAMP.

Pelotas, novembro de 2020


https://www.blogger.com/profile/13542660110694635884


Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas Informa:

Violência contra crianças e adolescentes; trabalho infantil, jovens moradores de rua fazem parte de uma série de violação de direitos que  recentemente  a Constituição Federal (1988) reconhece que  criança e adolescente são  como sujeitos de direitos, garantidos na forma da lei, como qualquer cidadão brasileiro. Trilhando o caminho da Constituição, foi sancionada a Lei Federal 8.069 (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA), de 13 de julho de 1990, que considera criança a pessoa de até 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. A infância e a adolescência são períodos cruciais do desenvolvimento humano e, por essa razão, necessitam de condições especiais para que transcorram de modo pleno e saudável. “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.” (Art. 4º) Apesar de haver uma legislação protetora dos direitos infantojuvenis, a sociedade se depara diariamente com crianças e adolescentes cujos direitos foram ameaçados ou violados. É importante saber identificar essas situações e a quem recorrer para que a ameaça ou violação deixe de existir. E toda e qualquer situação que ameace ou viole os direitos da criança ou do adolescente, em decorrência da ação ou omissão dos pais ou responsáveis, da sociedade ou do Estado...

Referências e complemento de leitura acesse link abaixo:

Violação dos Direitos de Crianças e adolescentes



Anote o número de telefones importantes:

Ministério Público (MP) -  Telefone: 3279-3555 E-mail: pjespecializadapelotas@mprs.mp.br 

Conselho Tutelar (CT) - Rua Três de Maio, 1060 - Telefone: 3227-5613 E-mail: ctpelotas@gmail.com 

 Delegacia Policial da Criança e Adolescentes (DPCA) - Telefone: 32254567  -  E-mail: pelotas-dpca@pc.rs.gov.br 





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