Lili

 

Lili

Depois de ter vivido à míngua por anos a fio, finalmente descansou.
Foi num sábado, pensou em tudo que havia passado, lembrou de todas as mazelas,
e decidiu que já bastava.
Nascida Arlindo, apanhava a cada movimento delicado, e a cada sova, mais amaciava seus gestos, e mais apanhava. Assim acontecia!
Cansada de tudo e de tanto, no sábado pegou sua mochila com documentos e um par de havaianas, depois da sova de vassoura, saiu pela porta e ganhou o mundo, por certo nas ruas não apanharia tantas vezes por dia, não teria a cabeça raspada a força, nem teria que escrever Arlindo em todo o caderno.
Lili, finalmente poderia respirar longe do Bispo, padrasto que ganhara ainda na infância, não sei como sobreviveu por tanto tempo nas mãos de um monstro que rezava enquanto lhe quebrava as costelas e o nariz.
Desse passado, Lili levaria somente as cicatrizes e a certeza de que Arlindo já poderia descansar em paz, pois naquela noite, Lili estava livre e já poderia nascer nas ruas da capital!

"Histórias Quase Inventadas" 

Autora: JANETE FLORES, 54 anos, natural de Porto Alegre, radicada em Pelotas desde a década de 90, com formação em Artes, habilitação em Música pela Ufpel, compositora, instrumentista, cantora, artista plástica e escritora. Membra associada ao GAMP.

Pelotas, novembro de 2020

Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas Recomenda:

- Se você vem sendo agredida com frequência converse com alguém de sua confiança, ou procure o Centro de referência no atendimento à mulheres em situação de violência;

- Deixe cópia dos documentos com alguém de sua confiança, ou guarde em lugar sigiloso e seguro, para casos de urgência;

Anote os endereços:

DEAM – Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher

Rua – Barros Cassal, 516

Fone: (53) 3310-8181 ou (53) 3310-8188

Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento - Sala das Margaridas

Rua: Professor Araújo, 900

Fone: (53) 32222000

180    DISQUE DENÚNCIA

0800-0803  -  Escuta Lilás  (ligação gratuita)

CENTRO DE REFERÊNCIA NO ATENDIMENTO Á MULHERES VITIMAS DE VIOlÊNCIA

Barão de Itamaracá, 690  (atrás do Foro)

Fone  - (53) 3279-4240